22.5.12

Amizade eterna amizade.


Um baque surdo acordou-o bem a tempo de ouvir a série de palavrões que se seguiu. Ainda atordoado, passou a mão pelos cabelos revoltos e pelo rosto inchado enquanto bocejava sem discrição. As cortinas da porta francesa que levava ao terraço estavam parcialmente fechadas e o pouco de luz que entrava mostrava que o dia amanhecera nublado. Eram quase sete da manhã, percebeu quando olhou para o despertador que ainda nem tocara. Quem estaria acordado e fazendo tanto barulho àquela hora?
- Eu deveria ter imaginado - falou para si mesmo assim que saiu pela porta da cozinha alguns minutos depois.
Noah estava usando jeans e uma camiseta preta surrada. Segurava um martelo em uma das mãos e, na outra, um prego. A sua frente estava uma bancada onde se viam espalhadas diversas estacas de madeira. O rapaz estava unindo-as umas às outras com a ajuda de pedaços retangulares do mesmo tipo de material.
O riso debochado de Matt não o abalou e Noah continuou a cantar com toda a força de seus pulmões. O som da música que ele acompanhava com maestria saía de um estéreo ao lado da garagem. Foi somente quando a canção terminou que ele olhou para trás, e para Matt.
- Bom dia. Desculpe pelo barulho, não tinha a intenção de acordar você.
- Como sabe que eu acordei com o barulho que você fez? - Matt aproximou-se com as mãos colocadas nos bolsos de seus jeans.
- Simples: em dia de folga, você só acorda antes das dez se estiver doente.
- O que foi aquele barulho todo? - respondeu Matt, resolvendo ignorar a provocação do amigo de infância. Noah, percebendo a manobra, soltou um risinho antes de responder.
- Atrapalhei-me quando tirava as madeiras da caminhonete e algumas caíram.
- Certo - Matt aceitou a explicação para o barulho, mas ainda não entendera o que o amigo fazia ali em sua casa tão cedo em uma manhã de sábado. - O que você está fazendo?
- Não vê? Estou fazendo uma cerca de madeira. Depois vou pintar de branco.
- Pra quê?
- Ora, todas as cercas do bairro são brancas - Matt bufou, impaciente.
- Por que você veio fazer uma cerca de madeira no meu quintal?
- Porque a cerca é pra você - Noah girou os olhos, entediado com aquela conversa.
- Quem disse que eu preciso de uma cerca? - Matt praticamente cuspiu as palavras, paciência nunca fora um de seus pontos fortes.
- A vizinha.
- E ela falou isso pra você? - o amigo assentiu. - Por que não pra mim? - Matt olhou para a casa ao lado, que ainda estava silenciosa.
- Duvido que você sequer saiba o nome dela. Você deveria ser mais social, sabia? - as palavras de Noah eram pontuadas pelas marteladas que ele dava pra colocar os pregos em seus devidos lugares.
- Deixo isso pra você - resmungou Matt. O outro riu.
- Não precisa ficar com inveja. Ela disse que vem te visitar hoje. Com uma torta de pêssego ou algo assim. Aja com educação.
- Você parece minha mãe falando!
- Esse seu comentário só prova que eu sou tão sábio quanto ela era - enquanto falava, Noah pegou mais um prego dentre os que segurava entre os lábios e preparou-se para martelá-lo.
- Esse martelo bem que podia errar o... - o grito e o palavrão abafado de Noah interromperam a fala de Matt.
- Você e essa sua boca maldita! - Noah levou o polegar aos lábios para amenizar a dor causada pela pancada. - Você tem sorte de ainda sermos amigos.


P.S.: Cinco anos, hein? Sorte tenho eu. Obrigada, por tudo. ♥

7 comentários:

  1. A mais linda, simplesmente. Que sorte tenho eu, isso sim. Acho que depois de tanto tempo, eu consegui adquirir ao menos um pouquinho da sua sabedoria, do seu carinho. Obrigada voce, gente grande, minha eterna tia Bu (:

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    1. Eu que consegui incorporar tantas e tantas características suas. Só me fizeram alguém melhor :)

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  2. Eu shippo eternamente a amizade de vocês <3

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  3. asjiasjiasjias eu ri :p

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  4. bem que todo mundo podia ter uma amizade dessas.

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