14.7.14

Talvez agora sim. (III)



O vento pegou Ana de surpresa e ela precisou juntar as coisas rapidamente. Pegando os papéis e o notebook, saiu da varanda e foi para o quarto, colocando tudo sobre a mesa que usava para trabalhar quando ficava deprimida e não queria se distanciar muito da cama.
Voltando para fora, Ana olhou para o céu e viu as nuvens negras que se aproximavam. A lâmpada da sala piscou e ela suspirou, irritada. Agora ficaria também sem luz, o que significava sem internet, o que queria dizer sem mais trabalho naquele dia.
Pelo menos o projeto da última cliente estava adiantado e ela não precisaria passar mais tempo no site de tintas testando qual cor ficaria melhor na parede da cozinha.
A campainha tocou justo antes de a luz apagar de vez e Ana agradeceu pelos pequenos milagres. Já estava esperando a entrega de um abajur e de algumas lâmpadas há duas semanas.
Correndo até a porta, Ana sorriu. Estava apaixonada pelos abajures que escolhera e finalmente os teria nas mãos - ainda que não fossem exatamente dela.
Mas não era nenhum entregador.
- Ana.
- Rodrigo?
Ele sorriu ao perceber o tom de interrogação na voz dela.
- Em carne e osso.
- O que... - Ana engoliu a seco e tentou de novo: - O que você está fazendo aqui?
Ele deu de ombros.
- Vendo o país. Dando de uma de turista.
- Ah...
Ele sorriu novamente e entrou no apartamento, pois Ana estava parada tentando lidar com a decepção. Dando uma de turista?
- Você fez um bom trabalho por aqui. Bastante colorido e aconchegante. Bem você.
- Obrigada. Eu acho.
- Foi um elogio sim. É bem você. E ser você é elogio - Rodrigo sorriu novamente. Ele andava sorrindo bastante ultimamente, Ana pensou.
- O que você está fazendo aqui, Rodrigo?
- Eu já disse. Estou...
- Dando uma de turista. Na Argentina, sim. Mas e aqui? Na minha casa?
- Quis ver você - Rodrigo encarou Ana, mas não sorriu dessa vez. - Talvez para sempre.
Não, não era a entrega de abajures e lâmpadas, Ana pensou. Mas a luz dentro dela finalmente se acendera outra vez.


Um comentário:

  1. não sabia que estava sentindo tanta saudade dessa suavidade das suas letras até ler.

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