12.6.12

Missing puzzle piece.


Dia dos namorados. Foi muito estranho olhar para o calendário naquela manhã e se dar conta de que a data que vinha antecipando por semanas finalmente chegara. Sua primeira reação foi pegar o celular e enviar uma mensagem engraçadinha para ele, do tipo cantada de pedreiro ou algo assim.
- Bom dia. Lembra que hoje é o aniversário da minha irmã, certo? Vou estar aqui na casa dos meus pais o dia todo... Em outra cidade. Isso significa que não vou poder te socorrer caso você precise desesperadamente de um beijo meu, haha. Nos vemos mais tarde.
Mas foi com certo esforço que reprimiu essa vontade e mandou um texto qualquer. No fim das contas, ele não era seu namorado. Estavam se vendo há... O quê? Três meses. Passavam um tempo considerável juntos, iam ao cinema, saíam para dançar, adoravam jantar aos sábados... Mas o rótulo de namorados nunca se aplicara a eles. Ele nunca tocara no assunto, e ela tinha uma opinião até que bem tradicional a esse respeito: o pedido deveria partir do homem.
Opinião esquisita, ela admitia. Afinal, o que menos existia no relacionamento deles era tradição. Haviam se conhecido há quase um ano, no restaurante favorito dela. Conversaram por horas, durantes as quais ele inclusive abandonou o grupo de amigos com o qual havia chegado. Trocaram números de telefone e, embora ela esperasse por uma ligação dele durante a semana, jamais adivinharia que o telefonema aconteceria naquela mesma noite.
Era tarde, passava das duas da manhã, mas ela passou o endereço de seu apartamento. Bastava olhar  para ele e seu coração parava. Além disso, algo lhe dizia para confiar naquele cara. O que acabou não sendo uma intuição muito acertada, porque, depois daquela noite, ele não entrou mais em contato. Até que uma visita apressada ao supermercado mudou tudo.
Ela tentava se decidir entre pizza congelada de quatro queijos e pizza congelada de calabresa quando viu um homem alto e moreno - meio que a personificação daquela música dos anos 80 - escolhendo pés de alface a uma distância considerável. Mas ela não teve dúvida alguma quando aqueles olhos verdes olharam diretamente para ela. Ele colocou um pé de alface no carrinho, esquecendo-se até de colocá-lo no saco plástico primeiro, e caminhou até ela.
- Nunca te imaginaria como uma fã de comida congelada.
- Não sou, na verdade. É uma emergência.
- Que tipo de emergência? - um barulho esquisito vindo do estômago dela foi toda a resposta de que precisava.
- Do tipo "morrendo de fome", eu diria. Não tive um segundo livre o dia todo, preciso comer algo dentro de dez minutos ou sou capaz de assassinar alguém.
- Posso preparar um sanduíche ou uma omelete bastante comestível em dez minutos.
- É uma oferta? Por que estou muito tentada a aceitá-la.
- É uma oferta, sim.
Então ele sorriu de um jeito que a fez se lembrar daquela primeira noite, e tudo pareceu se encaixar. Ele cozinhou para ela não só naquele dia, mas em diversos outros depois. Ela também lhe mostrou seus dotes culinários, e o comentário que ele fez ao provar sua comida foi:
Ela soube então que o amava. Mas era sua regra número um não falar de seus próprios sentimentos primeiro. Então ela esperou. E esperou. Mas ele nunca disse as palavras, embora suas atitudes quase gritassem que ele também a amava. Agora lá estava ela, na casa de seus pais, tentando sorrir para fotos e elogiando o bolo de sua mãe, enquanto sua cabeça não parava de pensar nele.
- É o interfone - seu pai disse.
- Oi?
- O interfone - ele indicou o aparelho, do qual ela era a mais próxima.
Jogando seus pensamentos para escanteio, atendeu. A pessoa do outro lado disse que tinha uma entrega para alguém cujo nome parecia soar muito com o dela. Pensou logo que poderia ser um pequeno mal entendido, pois a irmã e ela compartilhavam a mesma inicial. Porém, como uma tia sua estava alugando a aniversariante temporariamente, ela mesma foi abrir a porta.
O entregador lhe repetiu o nome, e ele parecia bem certo de que era aquele mesmo. Ela assinou o recibo e segurou as flores, sentindo seu aroma característico. Eram flores do campo, suas favoritas. E o cartão que acompanhava o buquê desenhou um sorriso tão grande em seu rosto que as bochechas protestaram: Espero que não se importe por eu ter tomado a liberdade de te considerar minha namorada. Feliz dia, pequena. Nos vemos mais tarde.

6 comentários:

  1. chorei .. eu sou mto bobona, cara .. queria ter um namorado romântico ¬¬' ahsuahsuahushasu

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  2. Caí no teu blog totalmente por acaso, num post sobre uma menina que adorava cantar e ficou triste vendo que uma música que um dia fora tão importante não era mais nada pra um certo carinha que estava no mesmo lugar que ela naquela noite... E ai, me identifiquei tanto com o teu jeito de falar sobre cantar que precisei ler outros posts. E preciso te dizer: adorei ter feito isso.

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    1. Que delícia ler seu comentário, Luísa. Fez meu dia, obrigada (:

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