25.12.13

Sobre neve, natal e retornos.



Camilla resmungou assim que pôs os pés na neve. Uma pena ter saído com botas de salto, porque ela sempre parecia um astronauta na Lua ao tentar andar. Mas, tudo bem, estava nevando, um frio gostoso, e ela ia comprar os presentes de Natal. Em cima da hora, como sempre.
Ao entrar na primeira loja, já tendo em mente qual seria o presente, ela o viu. E, dessa vez, diferentemente de um ano atrás, ela sorriu. Talvez o ano que tenha se passado houvesse mudado alguma coisa em sua vida. Talvez o pouco contato - que não era suficiente - tivesse feito alguma diferença.
Ele não a viu instantaneamente, mas ela também não se importou muito com isso, pois assim poderia observá-lo tranquilamente. Ela comprou um utensílio qualquer de cozinha para a mãe e, enquanto esperava o vendedor trazer sua nota, acenou quando Matthew se virou.
- Olá - ele sorriu e a abraçou. Era o primeiro contato desde o término do namoro, há três anos.
- Será que agora só vamos nos encontrar assim?
- Espero que não - ele desfez o abraço. - Presente para a sua mãe?
- Aham. Qualquer coisa para a cozinha, você a conhece - Matthew piscou um olho. - E você?
- Meu pai quer um fogão, o dele está bem velho. Seu cabelo - ele falou de repente.
- Digamos que eu quis mudar radicalmente - Camilla balançou as madeixas que agora mal batiam nos ombros. - E confesso que amei.
- Você parece mais velha - ele franziu um pouco a testa.
- Eu estou mais velha, Matt - Camilla sorriu, tocando-o de leve no ombro. - Eu fiz trinta e três, - ela piscou um olho - aquele cabelo grande ficou comigo por mais de dez anos.
- Nem sempre o mesmo comprimento, nem sempre a franja, nem sempre a cor - ele assinalou.
- Estou me sentindo muito mais leve. Muito mesmo.
- Aconteceu algo para essa mudança tão radical ser justificada?
- Não necessariamente - ela mentiu. Decidira o corte quando pensara na possibilidade de resolver todos os seus problemas com o ex-namorado. Talvez uma mudança no visual fizesse também uma mudança no relacionamento.
- Senhora, sua nota - o vendedor apareceu.
- Obrigada - ela agradeceu e se virou para Matthew outra vez. - Você já terminou? Podemos tomar um café?
- Claro que sim - ele estendeu o braço para que ela pudesse pegá-lo e ambos saíram da loja.
Não precisava de comentário algum, eles se dirigiram para a cafeteria de sempre. Pediram o café de sempre também e se sentaram no interior, já que a neve deixava tudo muito frio para que o lado de fora do estabelecimento pudesse ser aproveitado.
- E então? - Matthew se pronunciou primeiro. - Como estamos?
- Muito bem - Camilla sorriu. - Virei sócia na empresa, então tenho trabalhado bastante.
- Parabéns! - ele tocou a mão dela sobre a mesa
- Obrigada - Camilla pegou sua xícara, sem saber exatamente como reagir àquele contato.
Ela estava começando a ficar nervosa demais. E, de repente, percebeu que aqueles três anos de nada valeram e aquela sociedade na empresa onde trabalhava não era tão importante assim se não tinha com quem compartilhar seus êxitos.
- O que você tem feito nesses três anos?
- Trabalhando também. Uma filial foi aberta na Flórida, então tenho viajado bastante.
- Lá não tem neve.
- Não - ele riu de leve com a paixão dela. - Você está ouvindo essa música? - ele apontou para o ar, como se pudesse pegar a música nas mãos.
- Claro que eu estou ouvindo. Eu adoro músicas natalinas, você sabe, então percebo sempre que alguma toca.
- Você costumava cantar essa o tempo todo - Camilla meneou a cabeça.
- Ainda canto.
- Você está falando sério? - Matthew a encarou, sério dessa vez.
- Ahã - ela sorriu, por trás da xícara. - Make my wish come true, all I want for Christmas is you - ela acompanhou a música. - Vamos sair daqui? Eu ainda tenho presentes para comprar.
Ele se levantou em um pulo para pagar a conta. Sabia que ela não queria aquela mesa entre os dois, que preferia estar andando enquanto conversavam. Ele a conhecia bem demais.
- E então? - ele foi direto, sempre era. - Já se passaram três anos.
- Não importa. Eu nem sei por que esses três anos existem, para te falar a verdade.
- Por que...
- Esquece, Matt - ela o cortou. - Eles não importam.
- Sério, Cams? - ela sorriu. Adorava como o apelido soava na voz dele.
- Sério.
E antes que ela pudesse pensar em qualquer coisa, ele a beijou. Realmente, nada importava.


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