Por Ágatha Carolline.
Camilla resmungou assim que pôs os pés
na neve. Uma pena ter saído com botas de salto, porque ela sempre parecia um
astronauta na Lua ao tentar andar. Mas, tudo bem, estava nevando, um frio
gostoso, e ela ia comprar os presentes de Natal. Em cima da hora, como sempre.
Ao entrar na primeira loja, já tendo em mente
qual seria o presente, ela o viu. E, dessa vez, diferentemente de um ano atrás, ela
sorriu. Talvez o ano que tenha se passado houvesse mudado alguma coisa em sua
vida. Talvez o pouco contato - que não era suficiente - tivesse feito alguma
diferença.
Ele não a viu instantaneamente, mas ela
também não se importou muito com isso, pois assim poderia observá-lo tranquilamente.
Ela comprou um utensílio qualquer de cozinha para a mãe e, enquanto esperava o
vendedor trazer sua nota, acenou quando Matthew se virou.
- Olá - ele sorriu e a abraçou. Era o
primeiro contato desde o término do namoro, há três anos.
- Será que agora só vamos nos encontrar
assim?
- Espero que não - ele desfez o abraço.
- Presente para a sua mãe?
- Aham. Qualquer coisa para a cozinha,
você a conhece - Matthew piscou um olho. - E você?
- Meu pai quer um fogão, o dele está bem
velho. Seu cabelo - ele falou de repente.
- Digamos que eu quis mudar radicalmente
- Camilla balançou as madeixas que agora mal batiam nos ombros. - E confesso
que amei.
- Você parece mais velha - ele franziu
um pouco a testa.
- Eu estou mais velha, Matt - Camilla
sorriu, tocando-o de leve no ombro. - Eu fiz trinta e três, - ela piscou um olho - aquele
cabelo grande ficou comigo por mais de dez anos.
- Nem sempre o mesmo comprimento, nem
sempre a franja, nem sempre a cor - ele assinalou.
- Estou me sentindo muito mais leve.
Muito mesmo.
- Aconteceu algo para essa mudança tão
radical ser justificada?
- Não necessariamente - ela mentiu.
Decidira o corte quando pensara na possibilidade de resolver todos os seus
problemas com o ex-namorado. Talvez uma mudança no visual fizesse também uma
mudança no relacionamento.
- Senhora, sua nota - o vendedor
apareceu.
- Obrigada - ela agradeceu e se virou
para Matthew outra vez. - Você já terminou? Podemos tomar um café?
- Claro que sim - ele estendeu o braço
para que ela pudesse pegá-lo e ambos saíram da loja.
Não precisava de comentário algum, eles
se dirigiram para a cafeteria de sempre. Pediram o café de sempre também e se
sentaram no interior, já que a neve deixava tudo muito frio para que o lado de fora do estabelecimento pudesse
ser aproveitado.
- E então? - Matthew se pronunciou
primeiro. - Como estamos?
- Muito bem - Camilla sorriu. - Virei
sócia na empresa, então tenho trabalhado bastante.
- Parabéns! - ele tocou a mão dela sobre
a mesa
- Obrigada - Camilla pegou sua xícara,
sem saber exatamente como reagir àquele contato.
Ela estava começando a ficar nervosa
demais. E, de repente, percebeu que aqueles três anos de nada valeram e aquela
sociedade na empresa onde trabalhava não era tão importante assim se não tinha com
quem compartilhar seus êxitos.
- O que você tem feito nesses três anos?
- Trabalhando também. Uma filial foi
aberta na Flórida, então tenho viajado bastante.
- Lá não tem neve.
- Não - ele riu de leve com a paixão
dela. - Você está ouvindo essa música? - ele apontou para o ar, como se pudesse
pegar a música nas mãos.
- Claro que eu estou ouvindo. Eu adoro
músicas natalinas, você sabe, então percebo sempre que alguma toca.
- Você costumava cantar essa o tempo
todo - Camilla meneou a cabeça.
- Ainda canto.
- Você está falando sério? - Matthew a
encarou, sério dessa vez.
- Ahã - ela sorriu, por trás da xícara.
- Make my wish come true, all I want for
Christmas is you - ela acompanhou a música. - Vamos sair daqui? Eu ainda
tenho presentes para comprar.
Ele se levantou em um pulo para pagar a
conta. Sabia que ela não queria aquela mesa entre os dois, que preferia
estar andando enquanto conversavam. Ele a conhecia bem demais.
- E então? - ele foi direto, sempre era. - Já se passaram três anos.
- Não importa. Eu nem sei por que esses
três anos existem, para te falar a verdade.
- Por que...
- Esquece, Matt - ela o cortou. - Eles
não importam.
- Sério, Cams? - ela sorriu. Adorava como
o apelido soava na voz dele.
- Sério.
E antes que ela pudesse pensar em
qualquer coisa, ele a beijou. Realmente, nada importava.
Muito meus *-*
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