23.4.11

Rótulos.


Tudo era imensidão. Aquela sensação de que o futuro chegara era indescritível de tão maravilhosa. O mundo repousava em suas mãos e os corpos momentaneamente cansados apenas estavam... deitados ali, um no abraço do outro, como se o amanhã não fosse chegar jamais e ao mesmo tempo já estivesse diante deles, brilhante e colorido. Foi o riso dela, baixo e melodioso como sempre, que o fez voltar a raciocinar.
- O quê? - perguntou ele, ajeitando o corpo feminino contra o seu. - No que essa cabecinha não pára de pensar?

18.4.11

Lições (De Esquecimento).


Era ela. Não tinha dúvidas, porque estivera se lembrando de seu rosto muito mais do que deveria nos últimos dias. Talvez meses. Certamente por meses.
Olhando-a com mais atenção, procurou pela menina que conhecera. Infelizmente, essa já não parecia existir. Ela era toda diferença agora. Os cabelos eram diferentes, maiores e mais claros; as roupas eram diferentes; o corpo, o rosto... E, mesmo que não tivesse olhado dentro dos olhos dela ainda, sabia que as coisas das quais se lembrava já não estariam refletidas ali. Era ela. E, ainda assim, era outra pessoa.

14.4.11

Tende piedade de nós.


- Toda a cobertura sobre o Massacre de Realengo você continua a ver no Jornal...
Com apenas um toque de seus dedos trêmulos, o controle remoto fez seu trabalho e a tela da tevê se apagou. Nervosa, pegou a bolsa e saiu de casa. Quando deu por si, estava diante da escola do filho. Desligou o carro e entrou, dizendo na Diretoria que seu menino precisava sair mais cedo naquele dia. Apenas alguns minutos depois, viu-o caminhando em sua direção, arrastando a mochila pelo piso atrás de si e com uma expressão confusa no rosto.

10.4.11

Epifania.



- Dá pra acreditar que você vai estar casada daqui a alguns minutos?
- A verdade? Não. - Ela se sentou na beira da cama, tomando cuidando com o vestido branco que usava. - E ele... Não consigo acreditar que ele está me esperando na igreja, nesse exato instante. É tudo tão novo, mas sólido ao mesmo tempo... É... - Ela riu baixo e devagar. O que falava já não fazia o menor sentido. Mas sua amiga sorriu e seus olhos demonstraram compreensão.
- Eu entendo. - murmurou. - Aconteceu o mesmo comigo.