So blue.

You just left the only one that would care enough.

No dia marcado, ela mal conseguia conter a ansiedade. Ele certamente estaria lindo, com seu sorriso de Jason Statham mais brilhante que nunca. Da janela, ela cantarolava sua música favorita e observava as pessoas conversando baixinho. O quintal estava todo enfeitado com fitas e flores. O céu estava ensolaradamente lindo e os convidados, perfeitamente vestidos, ansiavam pelo grande momento. Em um canto, o enorme bolo lilás e branco aguardava o instante exato para ser cortado. As cadeiras brancas faziam jogo com o tapete vermelho, especialmente posicionado para receber os noivos. Tudo parecia perfeito.

Mas só parecia.

Segundos transformaram-se em minutos, depois em horas. E, quando a batida na porta precedeu a entrada do irmão do noivo, ela soube.

- Ele não vem - murmurou.

- Uh... Ninguém sabe o que aconteceu. Estou tentando ligar no celular, mas ele não atende.

- Tudo bem - ela disse, percebendo o desconforto do cunhado. - Você pode cuidar dos convidados para mim? Preciso fazer uma coisa.

- O quê? Para onde você vai? - ele gritou quando aquela linda mulher vestida de noiva passou a seu lado sem lançar-lhe um segundo olhar.

- Não se preocupe. Só cuide de tudo, por favor.

Era tarde de sábado e a cidade não poderia estar mais calma. Ela não levou mais de dez minutos para chegar ao porto. Tudo parecia conspirar. Para o quê, ela não conseguia definir. Só sabia que precisava continuar caminhando.

Ao avistar o barco que procurava, consequentemente ela avistou o homem também. Ele parecia apressado, pois tentava calçar os sapatos e abotoar a camisa ao mesmo tempo. Aquele era o cara que deveria estar casado há duas horas. E ela era a noiva que deveria estar sentindo nas bochechas uma dorzinha gostosa de sorrir para tantas fotos.

Mas a vida nem sempre é justa.

- Não se incomode - ela disse. Ele ergueu a cabeça tão violentamente que sentiu uma dor estranha na nuca.

- Rafa...

- Também não precisa dizer nada. Acho que essa vida não combina com a gente, afinal. Você sabe, estar casados - ela deu de ombros. - Talvez essa seja a coisa certa a se fazer.

- Rafa, eu só me atrasei um pouco. Não se preocupe, fico pronto em dois minutos e a gente vai pra casa. Vamos ser a sensação da cidade por muito tempo, você sabe, por caminhar juntos até o altar, mas eu posso aguentar se você também puder - ele brincou.

Com um sorriso desanimado, ela caminhou até sentir as pernas falharem. Sentou-se na ponta do cais e largou o buquê ao seu lado. Olhando para o mar, suspirou pesadamente. Sentia uma dor no peito que nada tinha a ver com emoção.

- Desculpe-me - ele sussurrou ao se sentar próximo a ela.

- Por que você fez isso com a gente? Por que você simplesmente não me disse que não queria... isso? - ela indicou o vestido.

- Mas eu quero - ele retrucou. E, precisando tocá-la, esticou as mãos, ensaiando um abraço, e lhe deu um beijo na têmpora. - Eu quero - repetiu.

- Suas palavras não combinam com seus atos - ela atacou. - Aposto que se esqueceu - ela riu e o som não possuía o mínimo traço de humor.

- Eu nunca faria isso, você sabe.

- O que aconteceu então? Você decidiu pescar alguns quilos a mais para o jantar de recepção? Ou você finalmente ouviu o canto de alguma sereia...

- Por favor, não fale desse jeito. Eu...

- Não... Eu já entendi. Você prefere esse espaço aberto que nunca será capaz de te prender. Mas, saiba você de uma coisa, ele já te prendeu. Você está tão atado a esse lugar que até se esqueceu de como viver.

- Rafaela...

- Essa é a nossa cena final. Eu vou embora e, por favor, não me procure.

- E se eu quiser te procurar?

- Então, por favor, tenha a certeza de que estará pronto para me amar da mesma forma que você ama cada tom de azul dessas águas. Do contrário, deixe-me encontrar outro lugar no qual aportar meu coração.

P.S.: Pauta para a 85ª Edição Visual do Bloínquês.