15.9.11

Uma história sem fim.



Maridos e esposas, pais e filhos, mães e filhas, irmãos e irmãs... Para cada rosto, uma vida. Para cada olhar desesperadamente fixo, uma história... Era quase absurdo estar ali parada e ter consigo a certeza de que, para cada sorriso estampado daqueles que se foram, milhares de lágrimas caíam dos olhos daqueles que ainda permaneciam. Como ela.
Tanta injustiça e brevidade jamais seriam compreendidas. Por ela, ainda menos. Tinha cinco anos quando a tragédia aconteceu, e algo muito essencial fora arrancado de suas mãos quando ainda não tinha a força necessária para segurá-lo bem forte.
Ela não pudera conhecê-lo, não tivera a oportunidade de ouvir sobre seus sonhos, suas conquistas, sobre sua maneira de encarar o mundo e a vida... Deveria ser mais fácil para ela do que para pessoas que haviam convivido durante toda uma vida com ele.
Mas não era. Agora, aos quinze anos de idade, ela sabia que nunca o escutaria pedindo para diminuir o volume do som, não sorriria diante da expressão dele quando tivesse seu primeiro encontro, não seria levada para tomar sorvete nem seria buscada na escola por ele, jamais deitaria em seu abraço repleto de conforto e aceitação...
- Vamos, filha? Ficar aqui não vai melhorar a dor - sua mãe disse, a voz lenta e baixa.
De pé diante das centenas de fotografias, encarou pela última vez aquela que era o único vínculo restante entre ela e o homem que nunca mais poderia chamar de papai.
- Estou indo - ela respondeu. E foi.


P.S.: Pauta para a 86º edição visual do Bloínquês.

2 comentários:

  1. ai céus, senti como se cada letra saísse de mim. era eu, era eu.

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  2. Como já te falei ontem, me emocionei de mais com esse texto. Talvez pq eu estava longe da minha mãe e sentindo muito a falta dela :(

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