Era ela. Não tinha dúvidas, porque estivera se lembrando de seu rosto muito mais do que deveria nos últimos dias. Talvez meses. Certamente por meses.
Olhando-a com mais atenção, procurou pela menina que conhecera. Infelizmente, essa já não parecia existir. Ela era toda diferença agora. Os cabelos eram diferentes, maiores e mais claros; as roupas eram diferentes; o corpo, o rosto... E, mesmo que não tivesse olhado dentro dos olhos dela ainda, sabia que as coisas das quais se lembrava já não estariam refletidas ali. Era ela. E, ainda assim, era outra pessoa.
Não resistiria à tentação. A reunião dos formandos mal tivera início e ele já sentia as mãos úmidas. Não haveria modo de permanecer impassível no mesmo ambiente que ela. Precisava, ao menos, se certificar de que ela estava... bem. Avançou pelo jardim lentamente e terminou parando ao lado dela.
Não resistiria à tentação. A reunião dos formandos mal tivera início e ele já sentia as mãos úmidas. Não haveria modo de permanecer impassível no mesmo ambiente que ela. Precisava, ao menos, se certificar de que ela estava... bem. Avançou pelo jardim lentamente e terminou parando ao lado dela.
- Tinha que ser aqui.
Não planejara dizer aquilo. Abrira a boca para cumprimentá-la como velhos amigos que eram, mas acabara por dizer algo que a forçaria a pensar no passado. Forçaria-os ambos. O campus da universidade estava mais moderno, com mais prédios e uma biblioteca maior agora. Entretanto, continuava sendo aquele lugar em que haviam se conhecido. Onde ela o havia amado e onde ele a havia feito sofrer.
- O que? - ela estava sorrindo. E aquele sorriso também não era o mesmo. Segurança. Era segurança que o sorriso dela transmitia agora. Não mais aquela inocência tímida de tempos atrás.
- Esse reencontro entre a gente.
- É... Pra ser sincera, eu não pensei que você viria.
- Eu não perderia - a chance de ver você - um open bar.
- Sempre o mesmo - ela riu. Claro que ela riu, era uma brincadeira. Mas ele não encarou dessa forma. Sentiu-se péssimo. Dez anos haviam se passado, e ele continuava o mesmo. Dizem que o sofrimento é a maneira mais eficaz de transformar uma pessoa. Então, ele deveria agradecer por ter vivido uma vida tranquila até ali e por ainda ser o mesmo cara, não? Que estranho paradoxo, pois ele não agradecia.
- Sempre o mesmo - concordou. - Mas você... como vai sua vida? - tinha que perguntar. Precisava saber.
- Bem. Muito bem - ela sorriu de novo e indicou a garotinha cujas mãos estivera segurando por todo aquele tempo. Ele observou a pequena menina que estava em cima do banco de madeira e notou algumas semelhanças entre elas. - Essa é a minha filha. E aquele ali - ela apontou para um garoto de uns sete anos que brincava com um homem alguns metros a frente - é meu filho.
- Uau - murmurou sem saber o que mais poderia comentar. Então ela conseguira. Conseguira com outro o que ele não pudera lhe dar.
- Hey...
Sentiu uma mão tocando-lhe o braço e, quando voltou ao momento, percebeu que a garotinha já não estava. Olhou ao redor e a viu junto do irmão e do... pai?
- Oi.
- Tudo bem? Você estava distraído.
- Só pensando - ela se sentou e ele imediatamente fez o mesmo. Estavam de costas para a família dela, mas ele continuava enxergando-os.
- Não se torture. Eu estou bem. Eu fiquei bem, justo como você disse que eu ficaria.
- O quê? - ele não entendia o que ela estava querendo dizer; ou entendia, mas tinha medo. Sempre tivera medo no que se referia a ela.
- Você estava lembrando da gente, de como a gente terminou...
- Como eu terminei com você. Como eu fui egoísta, como eu só levei meus sentimentos em consideração e esqueci os seus, como eu te magoei e te fiz sofrer...
- Acho que essa é uma outra maneira de dizer, sim - ela riu. Ela simplesmente riu. Naquele instante, ele percebeu quão profunda era a mudança ocorrida nela. Ela estava feliz agora. E ele não contribuíra em nada para isso. Muito pelo contrário. - Eu sempre quis uma família, sabe? Um compromisso e a segurança que isso me traria. Quando eu te conheci, pensei que tudo isso aconteceria com a gente...
- Mas eu não estava pronto. Eu tive medo.
- E isso me machucou mais do que qualquer outra coisa jamais conseguirá... Mas eu segui em frente. Aquele ali com meus filhos é o homem que eu amo. Ele apareceu na minha vida logo depois que você saiu dela... E me ergueu. Foi difícil confiar nele, mas ele simplesmente se manteve ao meu lado, esperando. O amor que eu sinto hoje por ele é infinitamente mais... doce, porque é plenamente correspondido.
- Então você não sente falta do passado?
- Não. O que eu sinto é uma espécie de alívio. Não me leve a mal, você é bom homem, sempre foi, mas se a nossa história não terminasse como terminou, eu não chegaria ao ponto que cheguei. Eu não teria amor ou essa segurança em mim mesma.
- É quase como se eu tivesse lhe feito um favor - ele finalmente estava se sentindo vivo de novo.
- Quase isso. Sabe o que as pessoas dizem sobre a felicidade ter um preço? Foi o que aconteceu comigo. Com a gente. Acho que já consegui quitar a minha dívida... E você vai conseguir também, um dia. Se você estiver disposto a isso.
- Acho que estou.
- Então vai acontecer. Acredite e pare de se preocupar...
- Como assim?
- Eu mesma só conheci a felicidade quando parei de procurar por ela. Ela adora fazer surpresas, sabe?
Ele riu enquanto se levantava e olhou dela para o homem com as duas crianças. O homem mostrou algo para a garotinha e depois olhou na direção da esposa, mas seus olhos não estavam sobre ela; estavam nele. E houve uma compreensão ali. O homem assentiu e ele também, como se fossem velhos conhecidos. Mas não eram. Ele estava apenas agradecendo ao estranho por ter cuidado dela quando ele se sentira tão incapaz de fazê-lo. Agora era tarde para recuperar aquela antiga vida, mas, como ela dissera, aconteceria uma nova para ele. Cedo ou tarde, ele terminaria de pagar o preço e conseguiria ser feliz. Porque agora já não procuraria pela felicidade. Agora estava pronto para vê-la chegar.
Engraçado, a medida que eu ia lendo, lembrava da DAD... Mas... hoje acho que já não é mais por eu ser traumada, por eu me nominar (ou já ter me nominado) trendy, mas é que... Como eu te explico? Sabe quando você conhece uma coisa e a partir de então você passa a compreender todas as coisas relacionadas a essa coisa? Não sei se ficou claro :p Mas enfim, eu vejo DyP nessa história, é esse o futuro que eu vejo pros dois. E... sei lá, só queria falar isso, ou nem era isso realmente... whatever xD
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