10.12.12

Segundas chances.


- Para onde vocês estão me levando? - as crianças que a puxavam pelas mãos compartilharam uma risada e continuaram a andar em silêncio. - Minhas pernas já estão doloridas.
- Só mais um pouco, mamãe - a menina respondeu.
- É, já estamos quase lá - o menino concordou.
- Vai ser uma boa surpresa?
- Mamãe! Surpresas são sempre boas - Julieta reclamou.
- Nem sempre - a mãe sussurrou.
- É seu aniversário. Só pode ser uma boa surpresa - a garota insistiu.
- Claro! Ainda mais essa, que foi organizada pela gente - Diego brincou, sorrindo tão amplamente que a falta de um dente se fez notar.
Catarina sorriu ao perceber que os filhos estavam levando-a para a entrada do parque da cidade. Aquele era seu lugar favorito no mundo. Estar ali deixou-a tão alegre que Catarina esqueceu todos os pesares daquele aniversário - o primeiro desde o divórcio.
- Fecha os olhos, mãe.
- Meu Deus! Não vão me deixar cair, vão?
- Não. Agora fecha!
Impaciente como só ela e cativante como só uma criança de seis anos poderia ser, Julieta convenceu Catarina a andar os últimos metros de olhos fechados.
- Ok, pode abrir - Diego anunciou.
De todas as surpresas possíveis, Catarina jamais imaginara aquela. Seus amigos mais próximos e todos os seus familiares estavam reunidos ao redor de mesas que continham doces, salgados e um enorme bolo rosa, azul e amarelo.
Julieta soltou a mão de Catarina e caminhou até o avô, voltando rapidamente com um punhado de balões coloridos como um arco-íris. Esticando o braço, colocou o fio que os prendia juntos na mãe de sua mãe.
- Feliz aniversário, mamãe!
Naquele momento, um fotógrafo tirou uma foto que, anos depois, ainda seria a favorita da família. Catarina, usando um vestido branco de bolinhas pretas, os cabelos longos e negros acariciados pelo vento da manhã, os olhos amorosos voltados para os filhos, e com um arco-íris ao alcance das mãos.
- Ju... - ela murmurou para a filha. - Di... Está tudo maravilhoso, meus amores. Obrigada! Como vocês fizeram tudo isso?
- Papai ajudou a gente - Diego sorriu e, puxando Julieta na direção de outras crianças, deixou Catarina sozinha, recebendo mecanicamente os cumprimentos dos outros convidados.
Quase uma hora depois, Catarina se afastou do enorme grupo e caminhou para a beira do lago. O banco de madeira ainda estava ali, como se apenas esperando por ela. Amarrando o fio dos balões no pulso, ela se sentou, contemplando a água.
Fora exatamente ali que a sua vida mudara, dez anos antes, quando conhecera Ricardo. E fora também ali onde se sentara para chorar quando ele pedira o divórcio. Não havia estado naquele lugar há meses, mas agora se arrependia da distância. Sentia-se, ali, completamente viva. Ainda que em pedaços.
- Não gostou da festa? - falou a sombra que surgira ao lado dela.
Olhando para cima, já sabendo quem encontraria, Catarina sorriu.
- Obrigada por ajudar as crianças com essa ideia.
- Você não respondeu a pergunta.
- Eu adorei. Estou me divertindo muito.
- Essa é sua noção de diversão? Sentar aqui, quietinha, e observar os patos no lago?
- Só vim pensar um pouco.
Ele assentiu e desviou o olhar para a água. Catarina aproveitou para desfrutar da companhia. Há muito tempo não ficavam assim, sozinhos e em silêncio.
- Feliz aniversário - ele murmurou.
- Obrigada - ela disse em resposta.
E o silêncio voltou. Um vento mais forte começava a soprar, fazendo os balões se movimentarem como se estivessem dançando. Catarina olhou para eles e soltou uma gargalhada.
- O que é tão engraçado? - ela indicou os balões com o olhar e continuou sorrindo. - Ah. Sabia que você ia gostar deles.
- Foi ideia sua?
- Foi. Escolhi porque combinam com você: alegres e delicados.
- Eu adorei - ela sorriu.
De repente, Ricardo ergueu a mão e depositou os dedos no rosto dela. Catarina fechou os olhos imediatamente, respirando com pressa e sentindo uma leve dor naquele toque. Uma dor de desejo, de querer tanto alguma coisa que se sente arrepiar.
- Pode parecer loucura, mas eu sinto sua falta todos os dias. As crianças me falam de você e é como se você estivesse no mesmo ambiente, sorrindo e reprovando-as com o olhar. Se vou ao supermercado, me vejo comprando suco de maçã, embora eu odeie. E, dia desses, cheguei em casa e chamei por você. Mas a única resposta que tive foi a sua perda doendo de novo.
- Ricardo, não faz isso. Foi você, lembra? Você quem colocou um fim na nossa história.
- Porque pensei que era o certo a se fazer - ele soltou um riso sem nenhum humor. - Só que eu estava muito errado.
Catarina suspirou, brincando com o fio amarrado ao redor do pulso e tentando ignorá-lo. Mas não havia como. Não quando esperara tanto por esse momento.
- Ontem eu fui ao supermercado. E acabei comprando quilos de salmão. Você sabe o quanto odeio peixe - respirando fundo mais uma vez, ela deu o último passo e caiu no vazio, esperando desesperadamente que ele estivesse lá para segurá-la: - Gostaria de jantar com a gente hoje à noite?


Um comentário:

  1. De alguma forma me lembrou um casal muito distante e uma história escrita por alguém mais distante ainda :s

    Enfim, bonita, todas as palavras.

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