27.6.12

(In)decisões.


- Eu vou querer de chocolate, mamãe - a menina teimou.
- Ontem não era de morango, Marina? - a mãe tentou não se irritar com a indecisão da pequena.
- Mas hoje é de chocolate - Marina cruzou os braços e formou um bico com os lábios, mas em seus olhos havia um brilho maroto.
- Tudo bem. Que seja chocolate - ela pegou o telefone, que dessa vez estava dentro do armário de copos, e discou o número da doceria. - E que essa seja sua última palavra ou você vai ficar sem bolo, mocinha - ela usou seu tom de mãe e Marina pareceu entender o recado, pois balançou a cabecinha morena vigorosamente. O telefone continuava chamando, mas ninguém atendia. Ela desligou.
- Como estão as mulheres da minha vida? - ele cumprimentou e, como sempre, ela se sentiu flutuar ao vê-lo.
- Papai! - exclamou Marina, com um brilho alegre em seus olhos tão idênticos ao do pai.
- Pequena - ele depositou um beijo sonoro na bochecha da filha e voltou a colocá-la no chão, indo em direção à esposa.
- Boa noite - ela sorriu antes de sentir os lábios do marido sobre os seus.
- Tudo bem por aqui?
- Tirando a indecisão da sua filha, tudo vai muito bem.
- Não sei de quem ela puxou esse traço - sorrindo, ele afrouxou a gravata e voltou sua atenção para a filha. - Vou tentar ligar pra Sandra e comunicar a nova escolha da aniversariante - a esposa ignorou o comentário engraçadinho do marido e pegou novamente o telefone.
- Eu fico com ela - disse e beijou a mulher novamente. - Nina, vem aqui, pequena - ele se sentou em uma cadeira e pegou a filha nos braços.
- Que foi, papai? - Marina colocou o indicador na boca e olhou ansiosa para o pai.
- Você gostaria de passar uns dias só com o papai?
- Por quê?
- Mmm, vejamos... - ele se ajeitou na cadeira - A mamãe tem um compromisso de trabalho em outra cidade. Deve durar uns cinco dias. Então, nesse tempo, seremos só eu e você - ele sorriu, mas Marina continuou séria.
- E quem vai contar minhas historinhas?
- Eu posso contar, se você deixar.
- Tá.
- Tudo bem, então? - ele não acreditou que a única preocupação da filha fosse as histórias contadas todos os dias antes de dormir.
- Tudo. Posso brincar? - a menina pediu.
- Claro, meu amor - ele deu um beijo nos cabelos dela e a colocou no chão. Marina saiu correndo pela casa em direção ao seu quarto.
- Que cara é essa? - ela perguntou assim que entrou novamente na ampla cozinha.
- Falei com a Nina sobre a sua viagem.
- E...? - ela pegou um vidro de geleia de morango que estava sobre a mesa e começou a fechá-lo.
- Ela só perguntou quem contaria as histórias dela - sorriu ele. Ela lambeu a ponta de um dedo que havia ficado sujo e ele, interessadíssimo, acompanhou todo o movimento.
- Não fez birra? Não bateu o pé? Nem chorou desesperadamente? - os olhos castanhos dela aumentaram diante da incredulidade.
- Não - ele riu da expressão da esposa.
- Uau - ela se virou novamente para a mesa, ficando de costas para o marido.
- Ei!
- Uh?
- Você não está chorando, verdade? - ele se aproximou e virou a mulher de frente para si. Ela fechou os olhos por alguns instantes e, quando os abriu, as lágrimas fizeram-nos brilhar ainda mais.
- Ela está crescendo... Não sou mais tão importante...
- Que isso, amor. Ela te ama. Você é a pessoa mais importante na vida dela, acredite.
- Já não sei mais... - ela se agarrou à camisa do marido e apoiou o rosto na curva do pescoço dele.
- E na minha também - ele acrescentou. Vagarosamente, ela ergueu o olhar para o marido e viu os olhos dele brilharem. E era o mesmo brilho que se instalara ali no instante em que a conhecera.

5 comentários:

  1. Você tem uma escrita muito romântica,sentimental. Me senti cativada por esse texto, pela doçura, pelas mensagens reflexivas que nele se destacam.

    Beijo.

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  2. Mais alguns milhares de 'owwwns' na minha cabeça. Vocês faz todos eles sentirem vontade de sair de mim, e não tem como dizer outra coisa depois de ler esse texto. Extremamente romântico e doce.
    Beijos!
    http://blogdoceilusao.blogspot.com.br/

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