13.4.12

Evoluções inesperadas.


Nunca pensei que esse dia realmente chegaria; a minha expectativa agora jaz destruída, derrotada. E isso só torna as coisas ainda piores. Olho para trás e vejo todo o caminho que percorremos juntos e sinto uma dor em crescente no peito. A estrada vindoura não parece mais tão calorosa ou receptiva. De repente, me sinto como se estivesse perdido em meio a uma floresta, com animais à espreita e uma tempestade prestes a cair.
Tudo começou com visitas ao hospital onde o amigo dele estava internado após uma tentativa de suicídio. Eu tinha conhecimento de alguns desses momentos. Mas muitos e muitos deles aconteceram sem que eu sequer sonhasse. E daí tudo pareceu... Evoluir.
Não gosto de pensar assim, pois essa palavra me parece boa demais para descrever o que aconteceu. Entretanto, foi mesmo uma evolução. Tudo era pequeno e, aos poucos, sem que notássemos, foi ficando enorme.
As visitas se transferiram do quarto de hospital para o quarto da casa dele. E cada vez mais eu fui ficando no escuro. Um dia, entretanto, foi como se acendessem uma lanterna diretamente nos meus olhos. Fiquei sabendo de tudo. Por uma mensagem de texto ridícula. E nós discutimos. Não foi meu melhor momento, confesso. Não me orgulho de nada do que disse ou fiz, mas, naquelas circunstâncias, senti que fosse necessário.
- Mal posso esperar por hoje - li a mensagem em uma voz acusadora.
- Ele precisa de ajuda! Será que você não consegue entender? Ele precisa... de mim.
A nossa situação ficou complicada depois desse dia. Sempre que estávamos juntos, o clima que pairava no ar já não era alegre. Era tenso. Eu já não encontrava tanto prazer na presença dele, e ele parecia sentir o mesmo em relação a mim. Sempre que ele me dizia que iria visitar o tal amigo, eu me sentia deixado de lado, esquecido... Rejeitado. Era como se eu não fosse estragado o bastante para que ele operasse a sua mágica e me curasse.
Aos poucos, esses sentimentos foram tomando proporções exageradas. Havíamos alcançado o estágio final, mas nenhum dos dois sabia disso. Tenho para mim que, caso soubéssemos, tudo teria sido diferente. De alguma forma, teríamos seguido por outra estrada; teríamos tentado - e talvez conseguido - manter vivo o que possuíamos de mais bonito.
- Eu amo você - ele dizia frequentemente.
- Eu sei. Mas é difícil para mim, sabe? Às vezes eu acho que... Preciso de mais.
- Eu não sei o que mais posso te dar. Eu te dei... Tudo. Tudo o que eu tinha, agora é seu.
Sabe, olhando para trás, eu até gostaria de dizer que tudo me veio inesperado como em uma explosão. Mas não foi assim. Parece que a gente sente quando grandes transformações - evoluções - estão por vir, afinal. Apesar de tudo, porém, nunca pensei que fôssemos chegar a esse extremo. Eu realmente nunca pensei que fôssemos ter um... Fim.

3 comentários:

  1. Bruna, já adianto que não sou tão bom comentarista quanto você... :D

    Gostei da história, em determinado momento pensei que o narrador acabaria tentando se matar também, para chamar a atenção do namorado. Talvez fosse mais impactante, mas o final que você escolheu sem dúvida foi mais real... e mais triste.

    "You and I have memories. Longer than the road that stretches out ahead" é um trecho de uma música chamada "Two of Us".

    Se você gosta de Legião, tenho certeza que vai apreciar:
    http://www.youtube.com/watch?v=2Ztr8j_-gD4


    Beijão e muito obrigado pelo seu comentário, fiquei realmente muito feliz em ler.

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    1. Tá vendo minha ignorância em Beatles, haha. Mas realmente gostei da música. E essa frase é incrível!

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  2. Guria, segunda vez que visito aqui e fico encantada com mais um belíssimo texto.
    Gostei, mais uma vez, da tua narrativa e de como escolhes as palavras certas para nos prender a história.
    Parabéns.

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