25.3.12

Coleção de culpas.



Todas as emoções eram frias, assim como o café já esquecido sobre a mesa. O quarto era penumbra, o coração continuava caminhando às cegas e os olhos não queriam ver. Nenhuma imaginação, porém, seria tão cruel, e então ela decidiu estar sonhando. Mas nem mesmo os pesadelos conseguiriam tamanha e terrível perfeição de detalhes.
Assim, tristemente, ela concluiu que era real. Bastante real para que o cheiro ainda pairasse no ar, impregnando com uma intensidade absurda tudo o que tocava. Real demais para que secasse os olhos e endurecesse a alma, como se ela fosse um soldado pronto para a guerra. O único desvio era que a guerra já começara e, em sua espera desesperada, ela sequer notara.
Era como uma saudade de um tempo que ainda não havia passado, como um solo de bateria mal feito que se repetia em um eco desafinado uma e outra vez. E ela perdia forças conforme essa realidade tomava conta de tudo. Os sentidos titubeavam, e ela já não tocava, ouvia ou olhava... Só aquele cheiro de culpa permanecia intacto.

2 comentários:

  1. Bruninha, publiquei um conto que talvez te agrade:
    http://reflexoesdo719r.blogspot.com.br/2012/04/por-causa-da-chuva.html


    Confere lá e me conta o que achou!

    Beijão.

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