- Acho que temos um problema - ela murmurou com o sorriso doce dando lugar a uma expressão preocupada.
- Que tipo de problema? - ele indagou já apavorado.
- Um bem grave, devo dizer - respondeu, olhando para os botões a sua frente como se nunca os tivesse visto antes.
- E você sabe resolver esse problema? - a voz dele soava ainda mais alta nos fones. Ana mal conseguia conter o riso.
- Deveria saber... Lembro-me do professor falando algo sobre falhas no motor, mas creio que eu estava bêbada demais para compreender.
- Deveria saber... Lembro-me do professor falando algo sobre falhas no motor, mas creio que eu estava bêbada demais para compreender.
- O quê? Eu não acredito! Eu vou sair daqui - Bernardo começou a desatar o cinto.
- E por um acaso você sabe voar?
- Droga!
- Creio que teremos que pousar em algum lugar... - Ana olhava para baixo, admirada com a própria atuação.
- Seja como Deus quiser - Bernardo fez o sinal da cruz e, rindo por dentro, Ana se preparou para pousar.
Por sorte, o pouso foi tranquilo. Tranquilo demais.
- Era brincadeira, não era? - Bernardo perguntou, assim que reuniu forças suficientes para controlar o tremor que insistia em tomar conta dele.
- Você percebeu? - Ana fez uma careta enquanto saía do avião.
- Então era mesmo? - Bernardo fez uma careta de raiva e Ana caiu na gargalhada. - Não acredito que você fez algo assim - ele murmurou, sentando-se na areia.
- O que achou daqui? - perguntou Ana, mudando de assunto enquanto também se sentava e abraçava os próprios joelhos.
- Maravilhoso - ele murmurou. - Mas, sinceramente, não imagino você nesse lugar - ele riu.
- Por que não?
- Uma garota que brinca com a vida dos outros não costuma gostar de lugares assim - ele indicou o mar com um gesto.
- Não brinquei com a sua vida - Ana pareceu indignada. - Eu sabia que não havia problema nenhum!
- Talvez eu não morresse de uma possível queda do avião - ele concordou. - Mas eu poderia morrer de ataque cardíaco!
- Não acredito que sentiu tanto medo - Ana replicou.
- Claro, você não estava na minha pele!
- Vou te dar uma chance de se vingar, topa?
- Como assim?
- Posso te deixar pilotar na volta para casa.
- Você é maluca, Ana! Eu nunca toquei em um avião antes!
- Você pode executar comandos simples... Que tal ser meu co-piloto?
- Simples como? Somente te dizer que uma luz vermelha acendeu ou apagou?
- E apertar um ou outro botão - ela acrescentou.
- Mas isso não será realmente uma vingança - ele protestou.
- Ok, deixarei você pensar em algo melhor. Pode caprichar - disse, Ana levantou-se.
- Aonde você vai?
- Correr - ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo desajeitado, sorriu e saiu caminhando antes de iniciar sua corrida. - Ah, quer saber? Duvido que você me alcance!
- Você só pode estar de brincadeira - Bernardo continuou sentado, mas já sorria.
- Ainda sem coragem, bonitão? - Ana provocou.
- Só estou te dando alguns segundos de vantagem - ele sorriu com superioridade.
Os dois correram pela praia como duas crianças. Os cabelos negros de Ana acabaram por se soltar e balançaram ao ritmo do vento. Os olhos de Bernardo estavam muito verdes e brilhando de prazer. Quando ele a enlaçou pela cintura, Ana soltou uma exclamação de espanto.
- O que me diz agora? - ele sorria e seu fôlego acariciava a nuca de Ana.
- Você me enganou - ela protestou.
- Eu só entro nas brincadeiras que sei que vou ganhar - Bernardo murmurou e a virou de frente para ele.
- O que você vai fazer? - Ana perguntou inutilmente ao vê-lo se aproximar mais e mais.
Com um sorriso brincando no olhar, Bernardo empurrou-a de uma só vez para o mar. Ana afundou completamente e se debateu um pouco para voltar à superfície. Depois do susto, ela não hesitou em jogar água para cima de Bernardo, mas ele estava sorrindo enquanto seu olhar ia do rosto dela para baixo.
- Odeio roupas brancas - Ana murmurou para si mesma e cruzou os braços sobre os seios.
- Ainda não foi suficiente.
- O quê? - ela saiu de seus pensamentos e olhou para ele sem entender.
- A vingança, Ana. Ainda vou pensar em algo melhor - ele sorriu. - Pode esperar.
- Como você é irritante! - reclamou. - Mas você sorri desse jeito e, de repente, nada mais importa.
- Nada?
- Nada.
P.S.: Pauta para a 85º edição musical do Bloínquês.
Que lindo este conto '0' Adorei a história. Quando você ama, por mais que a pessoa irrite, o sorriso dela te acalma '0' Parabéns por ter ganhado a edição musical,rs.
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