15.3.11

De novo, tudo novo.

- Talvez tenha sido melhor assim.
Diante daquela estranha declaração, ele finalmente conseguiu erguer os olhos do chão para encarar o rosto da mulher com que dividira a vida por mais tempo do que conseguia se lembrar com exatidão.
- E isso por quê? - perguntou em um tom monótono, como se falasse de pedir uma pizza ao invés de estar discutindo o futuro de um casamento.
- Porque eu acabei de descobrir que não te amo.
O coração dele parou. Perdeu o ritmo, e acabou parando por uma batida. No segundo seguinte, tudo era normal de novo. A impressão daquele ínfimo instante de morte, porém, foi o suficiente para fazê-lo tremer.
Observou a mulher diante de si, então, e reparou que os olhos dela não haviam ainda se desviado da cama desarrumada. Sentiu-se ridículo de repente por estar apenas de cuecas e, tão rápido quanto lhe foi possível, procurou uma calça para vestir.
- O que você quer dizer?
- Eu não amo você - ela o mirou nos olhos, aparentando uma tristeza tão palpável que ele se sentiu atingido fisicamente.
- Eu sei que estraguei tudo... Eu sei disso - ele se aproximou devagar. - Mas a gente pode conversar. Esclarecer as coisas.
- Discutir a relação? - ela zombou. - Não. É tarde demais...
Ele respirou fundo e pensou que mereceria um tapa pelo que diria a seguir. Mesmo que os minutos desde que sua mulher entrara pela porta do quarto em que estava fazendo sexo com outra parecessem irreais demais, o que estava disposto a pronunciar era verdadeiro. Uma verdade tardiamente redescoberta, mas tão forte que não pôde impedir a si mesmo de dizê-la.
- Te amo - ele prendeu a respiração, tentando decifrar as expressões que ela deixava transparecer com tanta ânsia que se sentiu tonto. Mas as palavras que ouviu não eram, de nenhuma forma, as que esperava:
- Eu sei - ela sussurrou. - Mas eu não amo você. Não como eu pensei que amava; não o suficiente pra te perdoar. Quando eu te vi... Antes... Eu senti um pedaço de mim desaparecer, se transformar em cinzas. Pensei que fosse meu coração. Mas não era. Era o meu amor por você. Um amor que nunca seria capaz de desaparecer assim tão fácil se fosse real. Mas ele não era. E agora meu coração está vazio. Intacto, mas vazio. E, quem sabe, outro amor possa chegar e preenchê-lo. Porque, veja você, esse é um dos meus problemas: eu não desisto. Não me entenda mal... Certamente vou me sentir um lixo por um tempo, vou desejar estar bem longe daqui, vou chorar até ficar sem voz assim que você sair por essa porta... Mas não vou deixar que isso me destrua. Esse vazio não vai tomar conta de mim, porque eu não vou deixar. E um dia tudo vai ser novo. De novo.


P.S.: À beira do Confesiones completar dois anos, senti vontade de recomeçar. Foram 144 posts desde maio/09. Suficientes, acho eu. Então, vamos em frente... Que cada segundo é novo.

3 comentários:

  1. foi um contraste enorme do fundo tão alto astral e da 'buena vibra' que eu recebi quando abri o novo confesiones pro que eu senti lendo o texto.
    tal como foi pra ele, foi quase uma facada, senti doer e sacudir como se o decreto dela fosse pra mim. pesado. doído. mas necessário.
    recomeçar é sempre necessário.
    e voce ja recomeça o confesiones com o pé direito, né?
    beijo, beijo,
    T.

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  2. às vezes eu não consigo entender o que se passa pela sua cabeça. por mais que tenhamos "aquela" sintonia, muitos são os momentos que não te entendo. ou às vezes até entendo, mas não gosto de pensar que seja assim.

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