19.3.11

Nunca é tarde.


- Parabéns, formando.
Aquela voz - meio risonha, meio insegura - chegou facilmente aos ouvidos dele, ainda que muitas outras estivessem ecoando ao seu redor naquele instante.
- Ei, você veio - respondeu ele, virando-se para vê-la.
Ela estava linda. Usava um vestido que era uma mistura harmoniosa de cinza e preto e cujo comprimento era ideal para ela. Aliás, nunca pensava na altura dela em termos de metros ou centímetros, mas sim em como o topo da cabeça feminina parecia se encaixar de forma perfeita sob seu queixo. Gostava muito disso nela. Gostava de tudo nela.
- Nós viemos - ela corrigiu, balançando a mão que segurava uma ainda menor.
Os olhos dele se demoraram a desviar da figura da linda mulher que tinha diante de si, mas, quando o fizeram, ganharam um brilho todo especial.
- Oi, filhão!
Ele se agachou diante do menino que dava um sorriso gigante para tudo e todos, sentindo-se orgulhoso de ser o filho daquele cara tão comum.
Ele sempre ouvira outros pais dizendo que seus corações pareciam encolher em momentos como aquele, quando sentiam o amor por seus filhos em toda sua plenitude. Mas ele deveria ser muito diferente do resto da humanidade, porque seu coração não se encolhia; se expandia. 
Pegou Bernardo nos braços e, enquanto fazia um comentário distraído sobre as gravatas de ambos - que eram de cores iguais -, olhou novamente para a mãe de seu filho. Já fazia muito tempo que estavam distantes. Não apenas separados, mas realmente distantes. Em todos os sentidos; até quando o assunto era Bernardo, o único elo real entre os dois. Pouco se viam e quase nunca conversavam. Ele passava pela casa dela algumas vezes por mês, ela colocava Bernardo no carro dele, entregava-lhe milhares de coisas das quais o menino poderia precisar enquanto estivesse com ele, e se despedia com um "até logo". Um ritual parecido ocorria quando ele levava Bernardo de volta para casa e... era isso. Esse era todo o contato que haviam tido em dois anos inteiros.
Mas agora ela estava ali. Ela poderia ter enviado Bernardo pelos pais dele, não precisava estar ali em pessoa. Mas estava, e parecia feliz por isso. E ele estava longe de criticá-la. Estava tão feliz quanto ela.
- Espero que não se importe...
- Com o quê?
- Com a minha presença - ela o encarava com aqueles olhos tímidos e interessados que, anos atrás, haviam sido o motivo de sua redenção.
- Claro que não. Na verdade, estou feliz por ter você aqui.
- Sério? - ela sorriu quando a alegria demonstrada por sua voz pareceu desconcertar inclusive ela mesma.
- Muito sério... Não seria o mesmo sem você.

Um comentário:

  1. onde vocÊ achou esse tema? ta, não era isso hasuahsuhas com esse de agora... eu vejo uma continuação do anterior, e eu já vejo um pouco diferente do que eu vi o anterior, eu vejo você. não adianta, sempre que houver Bernardo ou Lívia, é você que aparecerá em minha mente.

    ResponderExcluir