27.12.12

Sobre o princípio de um para sempre.


Sempre gostara de ser acordada pela luz entrando pela ampla janela, por isso nunca comprara cortinas para o quarto. Seu organismo já parecia sintonizado com o tempo do sol, sempre acordava às sete em ponto. Naquele dia, porém, tudo aconteceu de forma diferente. O que a despertou naquela manhã não foi o sol, que há tempos já espiava dentro do quarto. O que a despertou de verdade foi a outra presença na cama.
Abrindo os olhos, olhou diretamente dentro dos olhos mais azuis que já vira na vida. E sentiu tudo de novo, todos os sentimentos que aquela noite criara dentro dela e que não queriam ir embora.
- Bom dia - murmurou, sem jeito. Não sabia o que dizer nem como agir. Nunca havia levado um cara para casa antes, nunca deixara ninguém adentrar seu mundo daquele jeito.
- Bom dia - ele começou a lhe tirar os cabelos do rosto, mas já sentia a vontade de escapar crescendo dentro do peito e afastou a mão rapidamente. Ela sentiu a mudança nele e buscou algo para dizer que deixasse o momento mais leve. Mas o que acabou saindo de sua boca não foi muito inteligente, no fim das contas.
- Quer tomar um café?
- Não bebo café. Minha primeira refeição geralmente é o almoço - ele sorriu a modo de explicação, satisfeito pela resposta ser verdadeira. - Na verdade, preciso ir. Já estou meio atrasado para o trabalho.
- Claro! - ela se levantou da cama em um pulo. - Desculpa, eu não quis...
- Tudo bem - ele sorriu outra vez, também se levantando.
- Não estou acostumada com esse tipo de situação - ela sussurrou.
- Acredite, nem eu - ele respondeu enquanto começava a se vestir. Ao terminar, pegou as chaves do carro e estava pronto para partir. - Não se preocupe em me acompanhar, eu me lembro do caminho.
Apesar da estranha despedida, ele quis sorrir. Mas acabou apenas olhando nos olhos dela e assentindo rapidamente, como se faz quando se troca olhares sem querer com um desconhecido na rua. Depois, saiu sem olhar para trás. Caso o houvesse feito, teria visto que ela o seguira.
- Sabe, minha tia costuma dizer que o dono da casa deve abrir a porta se quiser que a visita volte.
Pego de surpresa, ele olhou para ela e viu o sorriso meio arrependido que crescia nos lábios femininos. Só não soube se o sentimento era por tê-lo seguido, pela pergunta ou pela noite em si.
- Meu pai diz o mesmo - ele comentou apenas para dizer algo. Ainda se sentia sobressaltado.
- Você me deixa abrir a porta? - ela perguntou com a voz pequena de ansiedade. Queria abrir a porta. Queria mais do que qualquer outra coisa naquele instante.
Ele respirou fundo, tentando decidir o que estava acontecendo. No quarto, quando se decidira por ir embora, realmente não pensara em um segundo encontro. Sairia dali e continuaria a viver como antes.
Mas aquela pergunta mudava tudo. Fazia-o ter vontade de voltar ali milhares de outras vezes até que realmente ficasse para sempre. Assim como tê-la nos braços durante a noite fora tão certo que de certa forma o assustara, aquele pensamento de eternidade o deixou um pouco sem chão. Parecia que perdido era seu estado padrão perto daquela mulher.
De repente, lembrou-se de outra coisa que seu pai dizia. O cara era, como sua mãe costumava descrevê-lo, o rei da filosofia de bar, e acreditava piamente que às vezes era importante ultrapassar os próprios limites e apenas torcer para que a queda livre desse em alguma coisa além de um fim doloroso. Com isso na cabeça, ele decidiu que era hora de pular:
- Deixo.


11 comentários:

  1. Oi, Bruna! Que texto lindo. Realmente precisamos ultrapassar os limites de vez em quando, é bom. Muda um pouco, e traz ótimas lembranças e novas histórias para contar.

    Abraço. Carinho, Emily.

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  2. AAin, que texto liiindo e bem escrito, ainda mais com aquele trecho da música do Train abaixo...adorei o final, porque isso nos lembra que, alguma hora, temos que dar um passo sem saber o que vai acontecer, para que possamos sair da mesmice!

    Beeijos!
    www.blogmymemories.com

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  3. Que texto lindo... situação difícil, vontade de dizer mil coisas, mas o olhar é que diz.
    Maravilhoso.
    Beijos, Cyn.
    http://ograndetalvez.blogspot.com.br

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  4. Parabéns, voce escreve maravilhosamente bem *-*

    fazdecontatxt.blogspot.com.br

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  5. nossa, que lindo!
    o titulo é um grande avanço sobre o texto,

    Seria pedir muito pra voltar no blog? @esteffanifontes - tt
    Aos Dezesseis Anos - aosdezesseisanos.blogspot.com.br
    Obg pela visita, volte sempre! Beijos, e Feliz Ano Novo.

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  6. acho sempre que o primeiro passo e o primeiro sim é o mais difícil. depois é deixar acontecer. eu acho.

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  7. Que texto mais lindo :o Amo seu jeito de escrever <3
    @awnste
    http://www.senhoritaliberdade.com

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  8. se converteu num dos meus favoritos, esse texto. quando dou por mim, tô aqui relendo.

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