3.10.12

Carpe diem.



- Quando você vai aceitar o que eu sinto?
- Isso não é jogo. Não há derrotas aqui; muito menos vitórias. E certamente não preciso de nenhum tipo de aceitação.
- Esse é um equívoco tão grande que eu sequer posso acreditar que saiu da sua boca.
- Você pode lutar o quanto quiser, mas as coisas não mudam somente porque você deseja que elas sejam diferentes.
- Eu estou aqui - ele abriu os braços -, oferecendo a mudança que seus olhos pedem aos gritos embora sua boca permaneça quieta. Tudo que você precisa fazer é aceitar.
- Sabe, às vezes eu desejo que tivesse conhecido você antes... - ela fez uma pausa, como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas pronunciar a palavra estupro ainda lhe era impossível. Assim, repetiu: - Antes.
- Então você está assumindo?
- Assumindo?
- Que desistiu. De viver.
- Suicídio não é realmente pra mim - ela deu um sorriso triste. - Você sabe.
Ele sabia. Fora ele que acordara sozinho no meio da noite e imediatamente se preocupara quando não ouvira um som. O silêncio sepulcral lhe assustara muito mais do que um grito seria capaz, e ele começou a inspecionar a casa. Encontrara a namorada no banheiro, encarando um monte de ofensivas pílulas e chorando tanto com o rosto escondido em uma toalha que seus olhos estavam vermelhos e irritados.
- Não é preciso morrer pra deixar de viver. Você só está sobrevivendo. Levando um dia após o outro, sem se preocupar com o amanhã.
- Mas não é isso que os sábios nos dizem pra fazer? Viver o hoje? Carpe diem?
- Mas com alegria. Com uma vontade real que, me desculpe, está faltando em você.
- E você me culpa? Realmente me culpa por eu não querer fazer planos só para vê-los destroçados antes que eu esteja preparada?
- Veja você, aí está o seu maior erro: esperar pelo desastre, até se preparar pra ele. Quem é você pra prever o futuro? Pra supor que tudo vai dar errado?
- E quem é você pra não? - ela gritou. - A vida é feita de possibilidades, sabia disso? Nada é garantido!
- Você está ao menos se escutando? Nada é garantido, mesmo! É exatamente isso que eu estou tentando fazer você enxergar!
- Por quê? Por que tanta insistência?
Quando encarou seus olhos lacrimejados, ele se sentiu decair. A dor daquela mulher era tão profunda que o estava impedindo de se aproximar.
- Porque eu te amo. Mas você não vai aceitar isso.
- Não preciso aceitar pra saber que é verdade - ela murmurou.
- É - ele sorriu. - Pelo menos você também não me considera um mentiroso.
- Também?
- Além de indigno de você.
- Não! - ela protestou. - A única indigna aqui sou eu. Sou indigna do seu amor, do seu cuidado, do seu carinho. Sou uma mulher despedaçada...
- Eu quero te ajudar a recolher os pedaços. Só me diz que sim.
- Não posso. Você chegou tarde demais.

2 comentários:

  1. que triste, GG. Isso me lembrou histórias e pessoas. Triste, bem triste.

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  2. Olá!
    GG, adorei muito esse seu texto. Procurei aqui em seu blog seu contato, mas não achei. Queria te perguntar se permite que eu reblog esse seu texto e poste no meu blog. Os créditos estarão incluídos, claro. Entre em contato comigo, por favor.

    Agradeço pela atenção.

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