Corri e me sentei ao lado dela. Olhei para baixo e me deixei hipnotizar pelo movimento das águas. Sua mão imediatamente brincou com as minhas orelhas e me fez aquele carinho entre os olhos que é meu favorito. "Lembra de quando eu te achei, Shot? Bem aqui, nessa praia?" Eu lembrava. Eu estava perdida naquela época, sem ninguém que olhasse duas vezes por mim. Mas ela meio que estava também. Foi natural me apoiar em alguém tão parecido comigo.
"Pensei muito sobre realmente adotar você. Eu não queria tirar você desse lugar, te levar para longe do mar e do céu estrelado." E nem eu estava certa de que queria ir, mas bastava olhar para ela que eu sentia uma conexão única, como se ela fosse minha alma gêmea ou como se aquele encontro estivesse escrito com antecedência em algum lugar. "Mas eu fiz mesmo assim e não me arrependo. Espero que você também não." Não, eu não me arrependia. Ela precisava de mim.
"Pensei muito sobre realmente adotar você. Eu não queria tirar você desse lugar, te levar para longe do mar e do céu estrelado." E nem eu estava certa de que queria ir, mas bastava olhar para ela que eu sentia uma conexão única, como se ela fosse minha alma gêmea ou como se aquele encontro estivesse escrito com antecedência em algum lugar. "Mas eu fiz mesmo assim e não me arrependo. Espero que você também não." Não, eu não me arrependia. Ela precisava de mim.
Respirei fundo e o barulho que fiz ao soltar o ar trouxe um sorriso aos lábios dela. Inclinei um pouco meu corpo e me encostei em sua perna, pensando. No fim do dia, eu caminharia de volta para os asfaltos e para os concretos que por pouco não me sufocam. Provavelmente uma eternidade - que ela chamava de um ano inteiro - iria se passar até que eu pudesse molhar novamente meus pés na água salgada.
Mas eu não me importo. É essa frequência falha que me faz valorizar ainda mais as areias e os ventos abundantes que brincam comigo sem parar. "Sabe, Shot, quando eu vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem." Balancei a cabeça em concordância. Sempre que eu voltava a esse lugar, sentia uma renovação tão grande e tão completa que eu quase parecia outra. "É estranho, mas eu sempre saio daqui desejando segurar o mundo na ponta dos meus dedos." Sei bem como é. Olhei para ela e sorri. Ela pareceu entender, pois sorriu de volta.
Em seguida, ela se ergueu e começou a andar para a areia enquanto eu dirigia um último olhar para o céu nublado. As nuvens ali pareciam ser ainda maiores do que na cidade. Que exagero, pensei. Era só o meu espírito que se sentia em casa e nada mais. O barulho das ondas quebrando ao longe chegou aos meus ouvidos e eu provavelmente devo ter suspirado de prazer. "Vem, Shot. É hora de ir para casa." Levantei-me e sua voz embalou meus passos enquanto eu a seguia. De repente, ouvindo sua voz me chamando e as águas dançando ao redor das minhas patas, descobri que eu estava errada. Eu estava em casa, sim, mas não por estar naquele lugar. Eu estava em casa porque estava com ela.
P.S.: Pauta para o Bloínquês: 103ª Ed. Visual e 104ª Ed. Musical. Vento no Litoral gritou meu nome.
É tão gostosa essa amizade/afeto entre nós e nossos melhores amigos, não é? Simplesmente tratando de um cão. rs
ResponderExcluirBoa noite.
É sim, Arianne. Ainda que eu prefira os gatos, ahaha :)
ExcluirAdorei seu conto! Estou querendo participar das duas edições também, mas vai ser difícil bater esse!
ResponderExcluirParabéns por sua escrita doce, leve e emocionante!!
=)
Os seus textos é que são imbatíveis, Taynná! :)
ExcluirQue texto delicado e bem escrito. Já disse que amo seus textos? Contos, enfim?
ResponderExcluirAcho linda essa amizade, linda demais.
http://senhoritaliberdade.blogspot.com/
Ah, obrigada, Stella! <3
ExcluirNossa Bruna, como você escreve bem.
ResponderExcluirFiquei apaixonada pela história, pela levesa das palavras.
Adorei teu blog e já estou seguindo. *-*
Beijoos, da Juu. :**
Obrigada, Juu <3
ExcluirTambém adorei o seu blog e já o sigo!
Adorei o texto, achei tão meigo.
ResponderExcluirTambém escrevi como se o cachorro contasse a história, mas realmentee o seu ficou muito bom (e melhor que o meu! auahsuahsauhs).
Beijão.
Nossa que liindo, me apaixonei pela história e pelo teu blog. Não tenho cães infelizmente, mas acredito que eles são mais que melhores amigos, eles são anjos da guarda.
ResponderExcluirAwn, que bom saber que tu também gosta da Any, sou super fã dela.
Beiijos:)
http://cartasp-voce.blogspot.com/
Adorei. Muito criativo escrever através da visão do animal, acredito que poucos tenham tido esta criatividade. Está de parabéns e mereceu o primeiro lugar! Já estou seguindo seu blogue e se quiser seguir o meu...
ResponderExcluirhttp://ouca-o-silencio.blogspot.com