1.9.11

Tudo sobre estradas.



É setembro. Parece que ainda ontem era janeiro, mas já é setembro. O último mês do inverno e o primeiro da primavera. Veja como as coisas estão sempre começando e terminando, em uma confusão sem fim, independente de você, independente de suas perdas ou vitórias. O mundo apenas segue em frente, desejando que você possa acompanhá-lo, mas sem se preocupar em olhar para trás.
Ela é apenas mais uma que deixou o mundo se distanciar. Olhando para os lados, só ouvia o silêncio cantado pelo vento e pelas árvores. Como companhia na velha estrada, apenas alguns passarinhos roucos de tanto avisá-la. O tempo está passando... O tempo está passando rápido demais.
E ela, ao invés de se apressar, fica parada e presa dentro de si mesma, com medo de, como aqueles pássaros, começar a voar. Mas é preciso voar. O mundo já está adiantado no caminho e, se quiser mesmo alcançá-lo, ela precisa voar. Andar já não é uma opção.
Nervosa, ela colheu duas ou três margaridas brancas de um canteiro esquecido e enfeitou com elas seu cabelo negro. Não precisava de um espelho para saber que o contraste de cores estava maravilhoso. Ah, como adorava as flores... Amava-as, mas era egoísta o suficiente para arrancá-las do solo onde certamente viveriam muito mais do que conseguiriam fazê-lo em seus cabelos. Não pretendia, porém, ser perfeita nem almejava encontrar perfeição em outras pessoas. Só queria voar. Precisava voar. Mas não possuía asas. Observou, com tristeza nos olhos, um pássaro alçar voo. Como gostaria de ter asas...
- É coisa da Natureza.
A voz sobressaltou-a. Pensava estar sozinha, mas pelo visto se enganara. Começando a se recuperar do susto, entrecerrou os olhos e olhou na direção da voz.
- O que é coisa da Natureza? - perguntou, entre curiosa e ainda assustada.
- Asas. Eles têm, nós não - o dono da voz deu de ombros. - Temos que nos adaptar.
- Adaptar-nos? Mas como?
- Corremos, ora - ele sorriu. - Não é o ideal, mas é o nosso melhor.
- Corremos - ela apreciou pronunciar a palavra.
- Corremos - ele reafirmou.
- Corremos - ela assentiu.
Para bailar la bamba... Para bailar la bamba se necesita una poca de gracia...
De onde vinha aquela canção? O lugar parecia tão calmo e... Ela enfim despertou. Sentou-se na cama, ainda zonza de sono, e estendeu a mão para desligar o despertador. La bamba. Grande música para se começar o dia, decidiu, sorrindo.
Após um enorme e indiscreto bocejo, lembrou-se do sonho. Sempre fora daquelas pessoas que acreditavam nos sinais enviados pelo Universo, e não seria diferente daquela vez. Depois do banho matinal, bastante necessário para que conseguisse despertar de vez, ela pegou o telefone e digitou uma mensagem rápida:
Onde você está? Quero te ligar, você pode falar agora?
Dois minutos mais tarde, recebeu a resposta positiva e, sorrindo, fez a ligação.
- Oi. Que surpresa. Não esperava ouvir de você tão cedo depois de... ontem.
- É uma boa?
- O quê?
- Surpresa. É uma boa surpresa ouvir de mim?
- Depende. O que você tem pra me dizer?
- Tanta coisa... - suspirou. - Mas o principal é que... pensei melhor.
- Quanto ao pedido?
- Uhum. Eu... fui muito burra ontem à noite.
- Você não precisa fazer isso. Olha, eu entendi os seus motivos. Simplesmente não era o momento certo.
- Eu não quero esperar pelo momento certo. Quero ser feliz.
- E o que isso tem a ver comigo?
- Tudo - sussurrou. - Se você quiser refazer a pergunta - ela riu, nervosa.
- Não sei se... - ele hesitou.
- Sim. É o certo. Pra mim, e pra você também. Por favor, faz a pergunta de novo. Isso é, se você ainda quiser...
- Eu quero. Mais do que tudo, você sabe disso.
- Então, faz... - murmurou.
- Pequena, você aceita se casar comigo?

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