30.7.11

And.


- Não consigo acreditar no que estou vendo!
- O que foi? Não gostou do chapéu? - indagou ele, dando uma ajeitada no chapéu branco e comprido. - Admito que ficou um pouco pequeno pra mim, mas...
- Não, não é isso. Você... Você fez o jantar?
- Uh... Sim? - disse ele, olhando ironicamente das panelas para o namorado.
- O que é isso? - ele caminhou para o fogão e olhou dentro de uma das panelas. - É o que estou pensando?
- Está pensando naquele arroz que sua mãe costumava preparar pra você? A resposta é: talvez.
- Mas por quê?
- Porque eu não sei se ficou bom, por isso.
- Ok - ele sorriu, esticando o braço e dando uma arrumada no chapéu de cozinheiro do namorado. - A propósito, ficou ótimo em você.
Seus olhares se encontraram e ambos permaneceram em silêncio por algum tempo. Os sorrisos que levavam desenhados como tatuagem no rosto mantinham uma comunicação secreta e especial. Estavam felizes e juntos. Nada poderia importar mais naquele exato instante.
- Tenho uma coisa pra te perguntar - o cozinheiro da noite anunciou.
- O que é?
- Bom... - ele pigarreou, subitamente nervoso.
- Sim? - o outro riu e esticou a mão para a nuca do namorado. - O que foi? Você esqueceu de comprar o vinho ou qualquer coisa assim?
- Não - ele sorriu, como era esperado. Sua mania de esquecer as coisas era lendária na relação. - Eu só...
- Assim você me deixa angustiado.
- Não... Não é nada ruim. Eu acho - acrescentou, com um sorriso irônico.
- Então fale.
- Eu... - ele suspirou, encarando o outro homem nos olhos e decidindo abrir a única porta que faltava para eles. Bem, isso não era totalmente verdade. Se a resposta para sua pergunta fosse a que estava esperando, provavelmente aquela porta se tornaria a primeira de muitas outras. - Você... Você me daria a honra e o prazer de... de se casar comigo?
- Oh, meu Deus! Você estragou tudo! - ele passou as mãos pelos cabelos, frustrado.
- Oh, meu Deus - lamentou. - Você não gostou? Eu deveria ficar de joelhos ou...
- Não! - ele praticamente gritou, segurando os braços do namorado. - Não é isso. É que... Oh, meu Deus... Eu... Nós... - ele finalmente desistiu de tentar explicar e enfiou a mão em um dos bolsos de seu jeans.
- Uau! - sua boca caiu aberta ao ver o que o namorado tirava do bolso, e, mais aberta ainda, ao ver o rapaz ajoelhar-se.
- Você se adiantou, foi isso que aconteceu - ele sorriu. - Sei que a gente já enfrentou muita coisa juntos, e provavelmente enfrentaremos muitas mais... Mas palavra-chave aqui é "juntos". Eu quero ficar junto de você até o final... Porque eu amo você. E quero me casar com você. Por favor, queira também.
- Também amo você. E você já sabe minha resposta - ele riu, emocionado. - Sim! Mil vezes. E você? Não vai responder a minha pergunta? Afinal, eu perguntei primeiro - brincou.
Erguendo-se, ele depositou um anel de ouro branco nas mãos do namorado, mantendo o outro consigo. Respirando fundo, olhou para o outro homem nos olhos e disse as palavras que, no passado, pensara nunca poder pronunciar.
- Se eu pudesse escolher de novo, seria você. Então, sim. Sempre. Sim.


P.S.:
¹ Com a aprovação da lei que permite a união estável homoafetiva no Brasil, que milhares de outros pedidos como esses possam ser feitos.
² Na foto, Neil Patrick Harris - meu lindo - e David Burtka.

Um comentário:

  1. Pro amor não existe fronteiras, não existe o certo e o errado... seria tão bom se o mundo visse isso.

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