31.5.11

Duas estações.



Não era fácil admitir. Sequer demorava muito ao se encarar nos espelhos do caminho, com medo de passar a enxergar o que não queria que lá estivesse. Estava, porém. Sentia e sabia, mas ignorava. Ao menos, na maior parte do tempo. Ignorava, e então fingia que estava bem e que sua vida era perfeitamente normal.
Entretanto, sempre chegava a época em que fingir já não era necessário. As mentiras que inventava para si mesma nos dias de estação fria já não serviam. Ouvia os passos subindo pelas escadas, ouvia a chave girando na fechadura e até detectava o cheiro dele antes que sua presença se materializasse em sua sala de estar. E então sua vida mudava.