- Ei, por que todo esse silêncio de repente? - ele ergueu o corpo e segurou um cacho dos cabelos dela enquanto murmurava a pergunta.
- Preciso te dizer uma coisa...
- Que coisa? Deve ser importante se conseguiu te deixar quieta por tanto tempo - ele sorriu, mas ela não conseguiu retribuir o gesto. - Ei... O que foi?
- Eu... - ela respirou fundo e em seguida segurou o rosto dele entre suas mãos pequenas. - Eu cometi um erro.
- Você está me deixando preocupado - ele segurou os pulsos femininos dentro de suas mãos, acariciando a pele como se tentasse acalmar os batimentos cardíacos que percebia estarem acelerados.
- Você está me deixando preocupado - ele segurou os pulsos femininos dentro de suas mãos, acariciando a pele como se tentasse acalmar os batimentos cardíacos que percebia estarem acelerados.
- Eu me apaixonei por você - sussurrou. - De novo. Lembra da primeira vez? Quando eu te disse e você... E você desapareceu? Desde que a gente se reencontrou naquele supermercado, eu tentei mentir para mim mesma... Mas não importa quantos anos se passem, eu ainda vou querer te dizer a verdade. Juro que pensei que poderia lidar com esse sentimento agora que estou mais madura - que nós dois estamos -, mas cheguei ao meu limite. Eu precisava dizer, mesmo sabendo o que poderia acontecer se eu o fizesse. Lembra o que você me disse na outra vez? Que não estava pronto pra me amar?
Com certa dificuldade de acompanhar a conversa, ele assentiu e percebeu as mãos dela se afastando de seu rosto.
- Eu só preciso saber se alguma coisa mudou...
Sempre haviam lhe dito que o tempo era relativo, e naquele momento ele teve a oportunidade de comprovar por si mesmo que era verdade. Sentiu como se os segundos parassem depois daquela pergunta implícita. Tentou olhá-la de frente, mas só o que conseguiu foi olhar para a parede enquanto via a vida que levava passando pela sua cabeça. Sempre solitário, nunca com bagagem desnecessária, sempre caminhando sozinho, nunca dependendo de outra pessoa para ser feliz...
E ela soube. Quando ele não pôde olhá-la nos olhos, ela simplesmente soube. Levantou-se da cama, colocou algumas peças de roupa dentro da mochila, calçou os tênis, vestiu o casaco e saiu. Não se incomodou em fechar a porta, só precisava colocar o máximo possível de distância entre ela e aquele amor que era só dela.
Quando alcançou a avenida movimentada, o único som que realmente escutava era seu próprio caminhar; nem as buzinas dos carros, nem os gritos de alguns motoristas estressados, nem a chuva que a ensopava. Apenas seus próprios passos, um após o outro e cada vez mais acelerados, como se quisessem marcar o ritmo de seu coração tresloucado. Não estava fugindo por que queria. Fugia por que simplesmente não podia permanecer.
P.S.: Pauta para a 96ª Edição Visual do Bloínquês.
Nossa, que triste :s Mas meus parabéns, você escreve bem e muito legal o blog :) Continua postando, hein?
ResponderExcluirBjs
Caraco, meio tenso, não? De qualquer forma, excelente forma de escrita!
ResponderExcluirNossa! Muito bom... Já te disse que aprecio muito a forma que escreves? Pois é, gosto muito.
ResponderExcluirBjocas e eutimia.
Dramático, lindo. Adoro quando os textos parecem fazer mais parte da realidade do que do mundo colorido que gostaríamos de viver. Adorei.
ResponderExcluirLindo blog, parabéns.
Beijo.
Carregado de sentimento, é assim que gosto de ler!
ResponderExcluirLindíssimo!