Linhas tortas.

But I'm the only one who'd walk across the fire for you.

Tudo sobre ele costumava agradá-la. O cabelo quase inexistente era muito sexy e o corpo forte, muito bom de se tocar. Ela adorava as mãos de dedos tortos e a mania chata que ele tinha de querer monopolizar o controle remoto. E ele parecia um ator de cinema. Jason Statham ou algo assim. Porém, ele odiava filmes de ação; preferia os bons suspenses, justo como ela.
Aliás, se os tempos fossem outros, eles seriam o casal perfeito. Não brigavam por nada mais sério do que uma medida errada na hora de passar o café. A música favorita de ambos era a mesma balada antiga irritante e, quando se sentavam para conversar, poderiam permanecer ali por horas sem sentir necessidade de escapar.

Ele jamais saía para o trabalho sem beijá-la, ainda que ela estivesse dormindo e não soubesse disso. Mas ele trabalhava desde o amanhecer até muito depois do cair do sol. E ela ficava em casa planejando o casamento e torcendo pelo dia em que ele fosse dizer que preferia margaridas ao invés de crisântemos.  Ela odiava crisântemos. Crisântemos eram flores tristes, muito mais desesperadas do que comemorativas.

Mas os dias foram passando, e ele não disse nada. Nada sobre flores ou canções ou votos. Nada sobre tudo. E ela terminou por escolher o vestido sem nenhuma ajuda - o que seria uma benção para mulheres supersticiosas, não para ela. Entregara sozinha todos os convites, inclusive para as pessoas da família dele. Planejara cada detalhe de cada lista. Nada lhe fugira.
No dia do casamento, estava nervosa. Suas mãos tremiam e mal conseguia segurar o buquê de margaridas. Ao entrar na nave, porém, sentiu a alma ficar mais leve. Lá estava ele, sorriso de Jason Statham e tudo, esperando por ela.


P.S.: Os quatro primeiros parágrafos foram escritos originalmente para o começo do So blue. Como acabei cortando-os daquele texto e as palavras ficaram perdidas aqui nos meus rascunhos, resolvi transformá-los em outro post. Achei que o Jason, afinal, merecia um final feliz.