Coloquei o último enfeite e ajeitei a última lâmpada. Com um suspiro de alívio, me afastei alguns passos e comecei a observar minha árvore com olhos críticos. Por ser a primeira vez em trinta e quatro anos de vida que eu tinha a responsabilidade de montar a árvore de Natal, o nível mais alto a que minha esperança se atrevia a chegar era de que a árvore ficasse ao menos de pé depois que eu terminasse.
Estava. Sorri para mim mesmo, um sorriso de satisfação que seria bastante utilizado mais tarde naquela noite quando minha família e alguns amigos chegassem para a ceia. Eles certamente ficariam surpresos com meu talento recém descoberto tanto quanto eu próprio estava.
Tarefa finalizada, olhei ao redor, procurando por ela, mas não vi Aila em nenhum canto da sala. Comecei a me preocupar e fui procurá-la. Aila já estava para fazer três anos, mas eu nunca me acostumaria a vê-la tão pequena em um dia e já andando - correndo! - no outro. Como minha mãe costuma dizer: só percebemos o quanto o tempo é capaz de correr quando temos filhos.
- Aila?
Comecei a chamar seu nome enquanto passava da sala para a cozinha e de lá para os quartos. Meu coração começou a bater mais alto e mais forte e minha cabeça começou teimosamente a enumerar todos os perigos que uma casa poderia representar a uma criança tão pequena quanto minha filha.
Quando reconheci os sintomas, respirei fundo e prometi a mim mesmo que eu não entraria em pânico. Desde o nascimento de Aila até que ela completou dois anos, qualquer coisa era motivo para que eu hiperventilasse, ficasse com as mãos úmidas e com a boca seca. E, ainda hoje, tenho que fazer um esforço enorme para manter meus medos sob controle.
- Oi!
Meus joelhos ficaram fracos ao ouvir sua resposta risonha, mas me obriguei a continuar caminhando. Fui encontrá-la em seu quarto com a metade superior do corpo escondida sob da cama.
- O que você está fazendo aí embaixo? - perguntei ao mesmo tempo em que me agachava e passava a mão por suas costas, tentando acalmar meu espírito. Ela estava bem.
- Nada - ela riu.
- Nada? - inclinei-me mais e coloquei minha cabeça sob a cama também. Avistei uma embalagem de papel com motivos natalinos e reparei que estava rasgada e amassada. - O que é aquilo?
- Papel. Vovó me deu.
- Vovó te deu? Por quê? - todos os presentes estavam sob a árvore, intactos, então eu não entendia de onde aquele papel tinha surgido.
Aila apenas riu e começou a engatinhar, saindo do outro lado da cama. Levantei-me e a encontrei sentada e me encarando com um sorriso sapeca no rosto. Suas mãozinhas estavam atrás de suas costas.
- O que você tem aí, princesa? - perguntei enquanto me sentava no chão em frente a ela.
- Nada, papai. Que chato você! - gargalhei.
- O que você está escondendo, hein? - comecei a fazer cócegas na barriga dela, coisa que Aila adorava e odiava em medidas iguais, e logo estávamos os dois gargalhando e as mãos dela já não seguravam nada. - Ah! - peguei a caixinha que ela largara e sacudi na frente dela.
- Ainda não é Natal, você não pode abrir seu presente!
- Um presente para mim? - perguntei com um sorriso bobo. Aila balançou a cabeça, concordando.
- Uhum. E você pode abrir - ela disse depois de pensar por alguns segundos. - Eu que escolhi, vovó só colocou o embrulho - explicou, como se eu não fosse perceber.
Vermelho era a cor favorita de Aila desde sempre. Também havia sido a cor favorita de sua mãe por todos os trinta anos em que ela vivera. Engoli a seco e subitamente senti meus olhos queimando. Desviei meu olhar daquele rosto tão pequeno e tão amado e tirei o meu presente da caixinha.
Era uma pequena esfera vermelha, um enfeite de Natal antigo, mas que eu conhecia bem. Letícia usara os enfeites daquele conjunto ano após ano para enfeitar nossa árvore... Mas em um novembro de bastante chuva, Aila chegou, e as complicações no parto impediram Letícia de voltar a fazê-lo.
Desde então, eu guardei todos os enfeites em uma caixa no porão e comprei tudo novo. Pensei que isso me faria sentir melhor, e realmente acreditei nisso por três anos, mas apenas de segurar aquele objeto entre meus dedos, senti uma paz que me renovou por inteiro. Eu não poderia mudar nada do que havia acontecido, embora às vezes desejasse tanto que minha pele doía com a intensidade. Mas eu simplesmente não poderia.
- Feliz Natal - Aila disse sorrindo.
- Feliz Natal - respondi com a voz um pouco rouca.
- Papai?
- Oi?
- Amo você.
- Também amo você, princesa - estendi meus braços e a segurei apertado contra meu peito. A naturalidade e a confiança com que ela apoiou sua cabeça em meu ombro me deu tudo que eu precisava ganhar naquele Natal.
- Papai?
- Mmm?
- Já que você abriu seu presente hoje, posso abrir o meu também?
P.S.: O melhor dos Natais para cada um de vocês! :)
Estamos a poucos dias do Natal esse dia especial que vemos passar por nós
ResponderExcluirincansavelmente ao longo de toda a vida.
vamos abrir as portas dar ao Menino Deus as boas vindas ao aniversáriante.
Um Feliz Natal ..Paz Amor E Luz De Jesus.
Obrigada por estar presente na minha vida no decorrer desse ano que breve chegara ao final.
Deus permita que nossa amizade seja iluminada pelo menino Jesus.
Um Natal De Felicidade Para Você Familia E Amigos.
Beijos ternos e carinhosos.
Evanir.
Tem um presente de Natal no blog se gostar esta a seu dispor.
Ah que ansiedade! A melhor época do ano, e seu conto despertou a vontade de que a manhã de domingo seja agora mesmo, por que não?
ResponderExcluirAila que me desculpe, mas quero colocar a ponteira na árvore!
Que lindo querida! Um Natal repleto de paz e amor para você e toda a sua família. Que o Senhor Jesus renasça a cada novo amanhecer!
ResponderExcluirBeijinhos